En folkefiende, Un ennemie du peuple (Ibsen, 1882)

Um médico de um hotel de águas medicinais descobre que a água está na verdade contaminada. Todo o desenvolvimento do empreendimento termal e da cidade que dele vive assenta assim numa grande mentira. O médico decide tornar público esse facto mas as autoridades, as forças vivas e por fim toda a população se revoltam contra ele, considerando-o o inimigo do povo. É uma das peças mais impressionantes que já vi. A questão ecológica, central na trama, entra pela porta grande na dramaturgia mundial. A questão política, a mais importante da peça, resume de forma feliz os grandes debates do final do século 18, mas continua muito atual. A representatividade na democracia, a elite ou vanguarda versus as massas, a deriva para o autoritarismo ou mesmo totalitarismo, o interesse social e o indivíduo, o fanatismo e o purismo ideológico, o controlo da opinião pública, os reacionários e os revolucionários (que podem também dar as mãos): tudo apresentado de forma dramatúrgica superior, com mil ecos no presente. Na verdade, vi a peça como se tudo se passasse nos dias de hoje, numa pequena cidade qualquer. Ibsen adorava ler a imprensa, mais aliás (se não estou errado) do que literatura, e por isso estava muito bem informado do estado do mundo e dos seus inúmeros fait divers. O Théâtre du Nord Ouest está de parabéns por ter conseguido propor uma produção à altura da importância da peça de Ibsen. Os atores são excelentes mas o protagonista merece o maior aplauso porque raras vezes vi um papel mais exigente, mesmo fisicamente, do que Stockmann. Foi uma grande noite de teatro. Paris 05.2018 TNO 4,5/5
En folkefiende (Un ennemie du peuple, 1882)
Encenação de Olivier Bruaux
com 
Alexandre de Pardailhan (Doutor Thomas Stockmann)
Mrs. Katherine Stockmann (Luana Kim)

Cairn (Enzo Corman, 1997)

CAIRN (2003) Les Éditions de Minuit 2003 Leituras 2025