Esta peça de Marivaux é uma das mais populares do teatro francês. Na sessão a que assisti estava presente uma criança que esteve atenta o tempo todo e de vez em quando soltava umas gargalhadas bem sonoras. A linguagem da peça não é propriamente fácil, mas também é em si mesma um dos elementos da comicidade do texto. Dois jovens nobres que se desconhecem estão prometidos em casamento. Para poderem observar e julgar mais objetivamente o futuro conjuge, resolvem fazer-se passar pelos respetivos criados enquanto estes assumem o papel dos amos. Fácil é mudar de traje, mais difícil é assumir a linguagem e o comportamento de outro estrato social. O criado que se transforma em amo, por exemplo, é traído pelos (maus) hábitos de linguagem da sua condição social de origem e isso origina alguns dos melhores momentos da peça. Encenação de Elise Vega Beron, com Marc Servies, Katerina Floradis, Béatrice Mandelbrot, Alexandre de Pardailhan, Joanna Rubio, Dominique Vasserot, Eric Veiga. Paris 02.2018 Théâtre du Nord-Ouest 4/5
Dos clássicos não me canso eu. Tinha visto Le Jeu de l'amour et du hasard (1730) de Marivaux em 2011 na Comédie Française, mas não me lembrava de quase nada a não ser da situação burlesca de partida: uma criada e a sua ama trocam de papéis durante a visita que recebem do candidato a noivo da ama. Mas o provável noivo também tem o mesmo estratagema e transforma-se no criado do seu proprio criado, sendo este promovido a amo. Estamos em pleno universo da comédia de enganos, aqui levada a uma sofisticação sem paralelo. Revisitei ontem esta mesma peça no teatro La Pépinière. numa boa encenação de Philippe Calvario. Paris 06.2015 La Pépinière 3,5/5